segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Tem cacique na Sapucaí



Mesmo com toda a elegância dos versos de Cartola, Nelson Cavaquinho e Carlos Cachaça, talvez a melhor definição sobre a Mangueira tenha saído das mãos de um torcedor da Portela. Paulinho da Viola, ao lado do parceiro Hermínio Bello de Carvalho, não deixou dúvidas sobre a beleza de um desfile da verde e rosa: “Visto assim do alto, mais parece um céu no chão”. Quando entrar na Marquês de Sapucaí, nas primeiras horas da terça-feira de carnaval, a Mangueira será um céu de cocares, penas e pinturas indígenas. Este ano, a escola presta uma homenagem ao Cacique de Ramos, bloco tradicional da Zona Norte carioca. Nos últimos 51 anos, uma parte relevante da história da música brasileira foi construída nas rodas de samba da quadra da Rua Uranos. Zeca Pagodinho, Fundo de Quintal, Arlindo Cruz, Jorge Aragão, Dudu Nobre e Almir Guineto são alguns dos nomes que, entre banjos, cavaquinhos e tantãs, passaram pela sombra da tamarineira. Todos eles observados de perto pela madrinha do bloco, a mangueirense Beth Carvalho.
Em seus primeiros desfiles, o Cacique saía por Ramos e se concentrava na Rua das Missões, hoje Rua Nossa Senhora das Graças, junto ao bar frequentado por Pixinguinha e João da Baiana. Em 1973, começou a sair na Av. Presidente Vargas, onde concorria com o Bafo da Onça. Depois, foi crescendo, a ponto de engolir o Bafo, em 1978, quando saiu com mais de dez mil componentes.
Já pertenceram ao bloco personalidades como Laudir de Oliveira (percussionista da banda de Sérgio Mendes) e Mussun ( dos Originais do Samba e comediante do grupo Os Trapalhões). Segundo Bira Presidente: "Além de Zeca Pagodinho, Luiz Carlos da Vila, Arlindo Cruz, Beto Sem Braço e do Fundo de Quintal, por aqui passaram jogadores como Brito, Marco Antônio, Roberto Dinamite e Jairzinho. 
No início da década de 1970 e parte da década de 1980, o "Pagode da Tamarineira", realizado nas quartas-feiras na quadra do bloco, reunia diversos compositores e intérpretes, que mais tarde se tornaram artistas reconhecidos, como Jorge Aragão, Almir Guineto, Mussun, Zeca Pagodinho, Marquinhos Satã, Luiz Carlos da Vila, Arlindo Cruz, Sombrinha, Sombra, Jovelina Pérola Negra, Neguinho da Flor, Adilson Victor, Carlos Sapato e, na época, ainda crianças levadas pelos pais, Andrezinho do Molejo (filho de mestre André), Dudu Nobre (filho de João e Anita), Waguinho, Anderson do Molejo, que fugia de casa aos sete anos para assistir aos ensaios do bloco.
Frequentando as rodas de samba da Tamarineira, o grupo acabou criando novos instrumentos, entre eles o "Tantã", por Sereno; o "banjo com braço de cavaquinho", por Almir Guineto e o "repique de mão", por Ubirany, e o repique-de-anel.
Surgia assim o grupo Fundo de Quintal, composto por alguns desses compositores, Tendo em sua primeira formação Jorge Aragão, Almir Guineto, Sereno, Neoci Dias ( filho de João da Baiana), Bira Presidente, Ubirany e Sombrinha.





Conhecido no Japão, Estados Unidos e em vários países da Europa, o Bloco Carnavalesco Cacique de Ramos é um dos poucos que ainda desfila pelas ruas da comunidade da Leopoldina.
Em 2010, iniciando as comemorações dos 50 anos de fundação do Grêmio Recreativo Cacique de Ramos, a Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro tombou o Grêmio Recreativo como patrimônio cultural da Cidade e ainda reformou a quadra do Gremio, situada à Rua Uranos, em Ramos. Também foram iniciadas as filmagens do documentário em longa-metragem com roteiro e direção de Chico Anysio e Eduardo Maruche e o bloco ainda teve sua trajetória exposta na "29ª Bienal de São Paulo" através das lentes do fotógrafo Carlos Vergara. 


Vou Festejar, Sou Cacique Sou Mangueira

Salve a tribo dos bambas
Um doce refúgio de inspiração
Salve o Palácio do Samba onde um simples verso se torna canção
Debaixo da tamarineira um índio guerreiro me fez recordar
Um lugar, um berço popular
Seguindo com os pés no chão
Raiz que se tornou religião
Da boêmia dos antigos carnavais
Não esquecerei jamais

Vem no batuque
Que eu quero sambar (me leva)
Já começou a festa
Esqueça a dor da vida
Caciqueando na Avenida

Sim, vi o bloco passando
O nobre rezando e o povo a cantar
Sim, é o nó na garganta
Ver o Bafo da Onça a desfilar
Chora, chegou a hora eu não vou ligar
Minha cultura é arte popular
Nasceu em 'Fundo de Quintal'
Sou imortal e eu vou viver
Agonizar não é morrer
Mangueira fez o meu sonho acontecer
O povo não perde o prazer de cantar
O povo liberto que a voz ecoou
Respeite quem pôde chegar onde a gente chegou

Vem festejar
Na palma da mão
Eu sou o samba, a voz do morro
Não dá pra conter tamanha emoção
Cacique e Mangueira num só coração
Composição: Igor Leal, Lequinho, Junior Fionda e Paulinho Carvalho

Fontes
Blog Eu Canto Samba
O Globo Zona Norte
Letras.terra.com.br





Um comentário:

  1. Eu não sabia que O Cacique foi "tombado", que legal! Acho que as comemorações dos 50 anos fizeram com que o Bloco fosse ainda mais lembrado e valorizado.

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